sexta-feira, 17 de abril de 2009

A ciência jurídica e seus dois maridos (Cap. 2)

FANOR – Faculdades Nordeste
GT – Direito, Cultura e Contemporaneidade.
A ciência jurídica e seus dois maridos/ Warat, Luís Alberto.
Capítulo II, Balada para um cronópio: o canto da sensibilidade.
Eulandia Florêncio.


A CIÊNCIA JURÍDICA E SEUS DOIS MARIDOS


O autor Luís Alberto Warat, destaca principalmente a literatura sensível e mágica de Júlio Cortázar com seu surrealismo que reclamava sensibilidade, solidariedade e compaixão. Ele pretendia com sua obra reinventar a ordem instituída através da perseguição dos sonhos. Há identificação na visão de linguagem de Artaud e Cortázar com o modo poético, irônico e absurdo de penetrar a realidade e o modo de usar a linguagem combatendo o ensino tradicional exercitando um olhar mais crítico. Cortázar era tido como um grande “piantado”, um “cronópio”, uma espécie quase inexistente entre os juristas. Era dotado de uma sensibilidade incrível aos acontecimentos mínimos, porém fantásticos existentes na vida. Cortázar enfatizava uma relação dicotômica entre os cronópios e os famas do direito. Cronópios e famas são seres divergentes, os famas fazem parte de uma linha mais formalista, que querem por tudo em seu lugar, que seguem os moldes já estabelecidos socialmente e dão continuidade a uma vida sem criação e confrontos com o instituído.
Os cronópios têm uma conduta especial como as de um poeta, são seres viajantes, criativos, desconcertantes de um humor doce e irônico ao mesmo tempo e vive dos acontecimentos. É praticamente impossível não lembrar do capítulo primeiro onde versa sobre os dois maridos de Dona Flor e não tentar associá-los com os cronópios e os famas de Cortázar, fica explícito que Vadinho e Teodoro respectivamente possuem o caráter semelhante ao dos personagens da literatura cortázariana. Cortázar chamava de “esperanças” os seres intermédios, aqueles que seguem um comportamento de acordo com o conveniente, os que são levados pelo espírito cartesiano e que estão bem mais ligados aos famas do que querem. O autor relata como se sentiu perdido após a receber a notícia da morte de Cortázar em 13 de fevereiro de 1984, sentiu-se começar a morrer junto a ele, pois desde sua juventude Cortázar serviu como inspiração, com suas idéias fantásticas de sentidos de vida, seu olhar descobridor, seu talento latino-americano contemporâneo que retratava as imobilidades cotidianas.
Realmente depende de nós regarmos a semente cortázariana, protelarmos a vida dos ideais de Cortázar ao máximo, não os deixando se perder como um lugar na literatura.

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